ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO
Etnocentrismo
“É uma visão do
mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros
são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas
definições do que é a existência [...]” (ROCHA, 1986, p.7)
O choque gerador do
Etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças (ROCHA, 1986, p.8 –
9)
A diferença é
ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural
O grupo do “eu” e o
grupo do “outro”
O grupo do “eu” faz,
então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a
melhor, a natural, a superior, a certa.
O grupo do “outro” fica,
nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou
ininteligível. (p.9)
“Grupo do eu”
“[...] o ‘nosso’ grupo,
que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do
mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses [e deusas], casa igual, mora no mesmo
estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta a vida significados em comum
e procede, por muitas maneiras,
semelhantemente. (ROCHA, 1986, p.8)
“Grupo do outro”
“[...] O “grupo do
‘diferente’ que as vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz
é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave
ainda, este ‘outro’ também sobrevive a sua maneira, gosta dela, também está no
mundo e, ainda que diferente, também existe.
Monólogo Etnocêntrico
“[...] pode, pois
seguir um caminho lógico mais ou menos assim:
Como aquele mundo de
doidos pode funcionar? Espanto!
Como é que eles
fazem? Curiosidade perplexa?
Eles só podem estar
errados ou tudo o que eu sei está errado! Dúvida ameaçadora?
Não, a vida deles não
presta, é selvagem, bárbara, primitiva! Decisão hostil.
Podemos acrescentar a
decisão que aparece frequentemente no “etnocentrismo forte, radical”
O “outro” (aquele
considerado diferente) a sua forma de ser ou a sua cultura deve desaparecer (ir
para outro local), acabar, se consertar à força, sumir, morrer, pagar pela sua
diferença [pecado] etc. Não tem salvação aqui e nem na outra vida [céu]
-
é o caso de forçar a mudança da cultura ou parte da cultura de ciganos, povos
nomades,
-
genocídio de povos nativos (no USA, Brasil);
-
casos de homofobia (proibição de demonstrações de afeto em espaços públicos)
-
aceitação condicionada (não viva a tua vida, faça as coisas escondidas e lhe
aceitamos)
-
interpretações religiosas (pecado, não ter salvação, ir para o inferno)
O Etnocentrismo não
propriedade de uma única sociedade. Mas na nossa sociedade revestiu-se de um
caráter ativista e colonizador com que os mais diferentes empreendimentos de
conquista e destruição de povos. (ROCHA, 1986,p.10)
[Lembrar dos ataques
aos diferentes (índios, pobres, gays, nordestinos) mostrados pela imprensa nos
últimos meses]
[Existência de níveis
diferentes de Etnocentrismo]
Exemplos de
Etnocentrismo Leve (negação de discutir a diferença, piadas, falatório etc.)
até ao Etnocentrismo Pesado (violências, expulsão, exclusão, morte)
O conceito de Etnocentrismo
é mais amplo, abrangendo julgamentos de outras coisas do outro além da Cultura.
Por exemplo: aparência, orientação sexual, alimentação, comportamento etc.
Ver paginas 18
a 20 do livro O que é Etnocentrismo
Etnocentrismo nos Meios
de Comunicação
Na indústria cultural -
TV, radio, revistas, publicidade, cinema, radio- são criados um enorme conjunto
de “outros” que servem para reafirmar, por oposição, uma serie de valores de um
grupo dominante que se auto – promove a modelo da humanidade.
Citar exemplos em
programas de TV, publicidades, revistas etc.
“Nossas próprias
atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos nas grandes
cidades, são muitas vezes, repletas de resquícios de atitudes etnocêntricas.
Rotulamos e aplicamos estereótipos através dos quais nos guiamos para o
confronto cotidiano com as diferenças. As ideias etnocêntricas que temos sobre
as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”, os “paraibas de obras”. os
“colunáveis”, os “doidões”, os “surfistas”, as “dondocas”, os “velhos”, os
“caretas”, os “vagabundos”, os gays e todos os demais “outros” com os quais
temos familiaridade, são uma espécie de “conhecimento”, um “saber”, baseado em
formulações “ideológicas”, que no fundo transforma a diferença pura e simples
num juízo de valor perigosamente etnocêntrico” (ROCHA, 1986, p.18 –
20)
Estereótipo
É [...] uma tendência à padronização, com a
eliminação das qualidades individuais e das diferenças, com ausência total do
espírito critico nas opiniões sustentadas’
[...] É um modelo rígido e anônimo, a partir
do qual são produzido, de maneira automática, imagens ou comportamentos”.
(SANT’ANA In: MUNANGA, 2001, p. 57)
Estereótipos podem ser positivos. Exemplo: todo o
alemão é inteligente, todo japonês é trabalhador
Ou pode ser negativo Exemplo – os mato-grossenses
são preguiçosos, comida boliviana é sem higiene.
Pode também não ser valorativo, por exemplo: todo
gay faz sexo anal
Estereótipos objetivam
Justificar
uma suposta inferioridade
Justificar
a manutenção do status quo
Legitimar,
aceitar e justificar a dependência, a subordinação e a desigualdade
(SANT’ANA In: MUNANGA, 2001, p. 58)
Posição perante a DIFERENÇA
- É pensada como esquisita, exótica, intolerável,
[pecado]
- Pode nos surpreender, escandalizar, horrorizar, ou
até nos encantar
- Provoca -> tensão, desconfiança, medo, pânico,
repulsa, nojo, irritação, intolerância, aversão (BANDEIRA,
1995, p.21)
““. A diferença nos incomoda, nos descentra, porque
afeta nossas certezas, nossa segurança.
Julgamos sobre “o outro” a responsabilidade das
diferenças, recusamos a considerá-lo igual. (BANDEIRA, 1995, p.21)
O Etnocentrismo é um pré-conceito étnico – cultural
Pode ocorrer numa relação entre povos ou no interior
de uma mesma sociedade
O Etnocentrismo pode assumira expressão de extrema
violência contra “os outros
Por exemplo – o racismo, a violência religiosa, [a
homofobia] (BANDEIRA, 1995, p.21)
RELATIVISMO
Relativizar é não transformar a
diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem ou mal, mas vê-la
na sua dimensão de riqueza por ser diferença. (ROCHA,
1986, p.20)
Relativizamos
quando (ROCHA,
1986, p.20)
- Quando o significado de um ato é visto não na sua
dimensão absoluta, mas no contexto em que acontece;
- Quando vemos que as verdades da vida são menos uma
questão de essência das coisas e mais uma questão de posição;
- quando o significado de um ato é visto não na sua
dimensão absoluta mas no contexto em que acontece;
- quando compreendemos o “outro” nos seus
próprios valores e não nos nossos;
- ver que a verdade está mais no olhar do que
naquilo que é olhado;
- é não transformar a diferença em hierarquia, em
superiores e inferiores ou em bem e mal,mas vê-la na sua dimensão de riqueza
por ser diferença.
Relativismo Cultural
[É negação do Etnocentrismo, ou seja, de julgar a
cultura do “outro” tendo como referência a nossa própria cultura.]
Deriva da constatação de que a avaliação de cada
cultura e do conjunto das culturas existentes varia de acordo com a cultura da
pessoa que faz a avaliação.
Os critérios que se usa para classificar uma cultura
são culturais. Ou seja, segundo essa visão, na avaliação de culturas
e traços culturais tudo é relativo.
Crítica ao Relativismo Cultural
José Luiz dos Santos
faz uma critica ao Relativismo Cultural, pois a história da humanidade
demonstra que alguns países (no exemplo citado os países capitalistas centrais
[Europa Ocidental, USA, Canadá, Japão) possuem maior capacidade de produção
material do que outros países [lembrar que conhecimento técnico faz parte da
cultura]. Com base nesta superioridade conquistam e destroem povos e nações,
fazendo com que sua civilização torne dominante a nível mundial (civilização
mundial).
Na
minha compreensão na história dos povos temos de “ver” a superioridade da
cultura de povos diferentes (no mínimo a parte material e os conhecimentos
tecnológicos), para entender a dominação de um povo por outro, e a hegemonia de
um povo (lembrar que sempre é transitória). Caso isto não se considere este
ponto de vista, podemos “cair” no Determinismo Racial, considerando que existem
“raças” superiores e “raças” inferiores.
A compreensão dessa civilização
mundial exige o entendimento dos múltiplos percursos que levaram a
ela. O estudo das culturas e de suas transformações é fundamental
para isso. (p.17)
Considera que enfatizar a relatividade de critérios
culturais é uma questão estéril quando se depara com a história concreta, que
faz com que essas realidades culturais se relacionem e se hierarquizem. (p.17)
Relativismo em relação ao preconceito
étnico-cultural
Tese da unidade da espécie humana
- A mesma origem, os seres humanos são da mesma
espécie Homo Sapiens se cruzam e geram filhos férteis
As diferenças de traços externos entre as populações
humanas, consideradas como diferenças raciais resultam de um longo processo de
adaptações as condições especificas [diferentes condições do meio ambiente MAIS
mutações]
(BANDEIRA, 1995, p.)
O Relativismo dá condições ao Antropólogo [as
pessoas em geral]
- No estranhamento do familiar, do
próximo, do conhecido (o olhar antropológico)
- O Relativismo além do estranhamento e de não
utilizar a nossa cultura como melhor ou superior às outras. Exige
algo além da neutralidade que é o comprometimento como o outro, ou
seja, a participação nos esforços de superação do processo de dominação [do
racismo, intolerância religiosa, homofobia etc.] (BANDEIRA, 1995, p. 30)
ALTERIDADE, ESTRANHAMENTO
Levar em consideração a alteridade é uma forma de
relativizar.
De acordo com Laplantine “A antropologia [...]é o
estudo de todas as sociedades humanas (a nossa inclusive) , ou seja, das
culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e
geográficas” (1995,p. 20)
Laplantine considera
necessário na prática antropológica de se ter um estranhamento (depaysement)
,ou seja, a não considerar a nossa sociedade, como o “centro do mundo” , como
referencia para analisar e julgar as outras culturas. É questionar o que
julgamos certo e natural. É notar de que o menor dos
nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem
nada de natural, são ,na realidade, o produto de escolhas culturais “[...]
aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; aquilo que
era evidente é infinitamente problemático [...]”(1995,p. 20)
Considera que “[...] o
conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo
conhecimento das outras culturas; e devemos reconhecer que somos uma cultura
possível entre tantas outras, mas não a única.” (1995,p. 20)
Propõem
uma revolução no olhar (revolução
epistemológica) (1995, p.22 - 23
- uma ruptura com a ideia
de que existe um “centro do mundo”, e correlativamente, uma ampliação do saber;
- deixar de identificar
nossa pequena província [sociedade em que vivemos] com a humanidade;
- romper com a
“naturalização do social” (como se nossos comportamentos estivessem inscritos
em nós desde o nascimento, e não fossem adquiridos no contato com a cultura na
qual nascemos [e vivemos];
- romper com a
identificação do sujeito com ele mesmo [si mesmo],e da cultura com a
nossa cultura (romper com o humanismo clássico);
- [considerar que o
outro, bem como a sua cultura, é uma das possibilidades do eu]
O que caracteriza os
seres humanos é a sua aptidão praticamente infinita para inventar
modos de vida e formas de organização social extremamente diversas
Considera que “[...]
assim como uma civilização adulta deve aceitar que seus membros se tornem adultos,
ela deve igualmente aceitar a diversidade de culturas, também
adultas” (1995, p.24
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ALTERIDADE
Álter – o outro semelhante a mim
Ter
postura relativista em relação a Cultura (ou elementos Culturais de determinado
Cultura) significa tentar através do pensamento se colocar no lugar do outro
(Alteridade), e lembrar que temos a Cultura (feito de ser, comportamento
típico) do povo, grupo social onde fomos criados e socializados. Por exemplo: se na Cultura de determinado
povo permite a nudez publica de adultos, se eu nascesse e fosse criado lá, não
teria o mal estar da nudez de adulto em público característico de nossa
sociedade.
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ANTROPOLOGIA
A Antropologia Social [também denominada de Antropologia Social] é a ciência
que estuda as diferenças entre os seres humanos. E ela possui o compromisso de
superar o Etnocentrismo. (ROCHA,1986, p.20 – 21)
[...]
Diferentemente do saber de “senso comum”, o movimento da Antropologia é no
sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções
diversas a limites existenciais comuns. Assim, a diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa. El anão é uma hostilidade do “outro”, mas sim
uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o “eu”(ROCHA, 1986, p.21)
BIBLIOGRAFIA
BANDEIRA, Maria de
Lurdes. Antropologia: Cultura e Sociedade no Brasil. Cuiabá:
Universidade Federal de Mato Grosso, 1995.
MUNANGA, Kabengele
(Org.). Superando o racismo na escola. 3. ed. Brasília: Ministério
da Educação, 2001.
SANTOS, José Luiz dos.
O que é Cultura. 9. ed. São Paulo:Brasiliense, 19—
ROCHA, Everardo
P.Guimarães. O que é Etnocentrismo. 3. ed. São
Paulo:Brasiliense, 1986.
LAPLANTINE,
François. Aprender antropologia. 8.ed. São
Paulo:Brasiliense,1994.