quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO



ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO

Etnocentrismo
É uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência [...]” (ROCHA, 1986, p.7)

O choque gerador do Etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças (ROCHA, 1986, p.8 – 9)
A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural

O grupo do “eu” e o grupo do “outro”
O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa.
O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível.  (p.9)

“Grupo do eu”
“[...] o ‘nosso’ grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses [e deusas], casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta a vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente.      (ROCHA, 1986, p.8)

“Grupo do outro”
“[...] O “grupo do ‘diferente’ que as vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis.  E, mais grave ainda, este ‘outro’ também sobrevive a sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.

Monólogo Etnocêntrico
“[...] pode, pois seguir um caminho lógico mais ou menos assim:
Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espanto!
 Como é que eles fazem? Curiosidade perplexa?
Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado!  Dúvida ameaçadora?
Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárbara, primitiva!  Decisão hostil.

Podemos acrescentar a decisão que aparece frequentemente no “etnocentrismo forte, radical”
O “outro” (aquele considerado diferente) a sua forma de ser ou a sua cultura deve desaparecer (ir para outro local), acabar, se consertar à força, sumir, morrer, pagar pela sua diferença [pecado] etc. Não tem salvação aqui e nem na outra vida [céu]
            - é o caso de forçar a mudança da cultura ou parte da cultura de ciganos, povos nomades,
            - genocídio de povos nativos (no USA, Brasil);
            - casos de homofobia (proibição de demonstrações de afeto em espaços públicos)
            - aceitação condicionada (não viva a tua vida, faça as coisas escondidas e lhe aceitamos)
            - interpretações religiosas (pecado, não ter salvação, ir para o inferno)

O Etnocentrismo não propriedade de uma única sociedade. Mas na nossa sociedade revestiu-se de um caráter ativista e colonizador com que os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de povos. (ROCHA, 1986,p.10)

[Lembrar dos ataques aos diferentes (índios, pobres, gays, nordestinos) mostrados pela imprensa nos últimos meses]
[Existência de níveis diferentes de Etnocentrismo] 
Exemplos de Etnocentrismo Leve (negação de discutir a diferença, piadas, falatório etc.) até ao Etnocentrismo Pesado (violências, expulsão, exclusão, morte)
O conceito de Etnocentrismo é mais amplo, abrangendo julgamentos de outras coisas do outro além da Cultura. Por exemplo: aparência, orientação sexual, alimentação, comportamento etc.
Ver paginas 18 a 20 do livro O que é Etnocentrismo

Etnocentrismo nos Meios de Comunicação
Na indústria cultural - TV, radio, revistas, publicidade, cinema, radio- são criados um enorme conjunto de “outros” que servem para reafirmar, por oposição, uma serie de valores de um grupo dominante que se auto – promove a modelo da humanidade.
Citar exemplos em programas de TV, publicidades, revistas etc.

Nossas próprias atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos nas grandes cidades, são muitas vezes, repletas de resquícios de atitudes etnocêntricas. Rotulamos e aplicamos estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto cotidiano com as diferenças. As ideias etnocêntricas que temos sobre as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”, os “paraibas de obras”. os “colunáveis”, os “doidões”, os “surfistas”, as “dondocas”, os “velhos”, os “caretas”, os “vagabundos”, os gays e todos os demais “outros” com os quais temos familiaridade, são uma espécie de “conhecimento”, um “saber”, baseado em formulações “ideológicas”, que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etnocêntrico” (ROCHA, 1986, p.18 – 20)

Estereótipo
É [...] uma tendência à padronização, com a eliminação das qualidades individuais e das diferenças, com ausência total do espírito critico nas opiniões sustentadas’
[...] É um modelo rígido e anônimo, a partir do qual são produzido, de maneira automática, imagens ou comportamentos”.
(SANT’ANA In: MUNANGA, 2001, p. 57)

Estereótipos podem ser positivos. Exemplo: todo o alemão é inteligente, todo japonês é trabalhador
Ou pode ser negativo Exemplo – os mato-grossenses são preguiçosos, comida boliviana é sem higiene.
Pode também não ser valorativo, por exemplo: todo gay faz sexo anal

Estereótipos objetivam
            Justificar uma suposta inferioridade
            Justificar a manutenção do status quo
            Legitimar, aceitar e justificar a dependência, a subordinação e a desigualdade
(SANT’ANA In: MUNANGA, 2001, p. 58)

Posição perante a DIFERENÇA
- É pensada como esquisita, exótica, intolerável, [pecado]
- Pode nos surpreender, escandalizar, horrorizar, ou até nos encantar
- Provoca -> tensão, desconfiança, medo, pânico, repulsa, nojo, irritação, intolerância, aversão   (BANDEIRA, 1995, p.21)

““. A diferença nos incomoda, nos descentra, porque afeta nossas certezas, nossa segurança.
Julgamos sobre “o outro” a responsabilidade das diferenças, recusamos a considerá-lo igual. (BANDEIRA, 1995, p.21)
O Etnocentrismo é um pré-conceito étnico – cultural
Pode ocorrer numa relação entre povos ou no interior de uma mesma sociedade
O Etnocentrismo pode assumira expressão de extrema violência contra “os outros
Por exemplo – o racismo, a violência religiosa, [a homofobia]    (BANDEIRA, 1995, p.21)


RELATIVISMO
Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem ou mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.  (ROCHA, 1986, p.20)

Relativizamos quando                      (ROCHA, 1986, p.20)
- Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta, mas no contexto em que acontece;
- Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição;
- quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece;
- quando compreendemos o “outro”  nos seus próprios valores e não nos nossos;
- ver que a verdade está mais no olhar do que naquilo que é olhado;
- é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal,mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.

Relativismo Cultural
[É negação do Etnocentrismo, ou seja, de julgar a cultura do “outro” tendo como referência a nossa própria cultura.]
Deriva da constatação de que a avaliação de cada cultura e do conjunto das culturas existentes varia de acordo com a cultura da pessoa que faz a avaliação.

Os critérios que se usa para classificar uma cultura são culturais.  Ou seja, segundo essa visão, na avaliação de culturas e traços culturais tudo é relativo.

Crítica ao Relativismo Cultural
José Luiz dos Santos faz uma critica ao Relativismo Cultural, pois a história da humanidade demonstra que alguns países (no exemplo citado os países capitalistas centrais [Europa Ocidental, USA, Canadá, Japão) possuem maior capacidade de produção material do que outros países [lembrar que conhecimento técnico faz parte da cultura]. Com base nesta superioridade conquistam e destroem povos e nações, fazendo com que sua civilização torne dominante a nível mundial (civilização mundial).

Na minha compreensão na história dos povos temos de “ver” a superioridade da cultura de povos diferentes (no mínimo a parte material e os conhecimentos tecnológicos), para entender a dominação de um povo por outro, e a hegemonia de um povo (lembrar que sempre é transitória). Caso isto não se considere este ponto de vista, podemos “cair” no Determinismo Racial, considerando que existem “raças” superiores e “raças” inferiores.

A compreensão dessa civilização mundial exige o entendimento dos múltiplos percursos que levaram a ela.  O estudo das culturas e de suas transformações é fundamental para isso.   (p.17)

Considera que enfatizar a relatividade de critérios culturais é uma questão estéril quando se depara com a história concreta, que faz com que essas realidades culturais se relacionem e se hierarquizem.  (p.17)

Relativismo em relação ao preconceito étnico-cultural
Tese da unidade da espécie humana
- A mesma origem, os seres humanos são da mesma espécie Homo Sapiens se cruzam e geram filhos férteis

As diferenças de traços externos entre as populações humanas, consideradas como diferenças raciais resultam de um longo processo de adaptações as condições especificas [diferentes condições do meio ambiente MAIS mutações]
(BANDEIRA, 1995, p.)

O Relativismo dá condições ao Antropólogo [as pessoas em geral]
- No estranhamento do familiar, do próximo, do conhecido (o olhar antropológico)
- O Relativismo além do estranhamento e de não utilizar a nossa cultura como melhor ou superior às outras.  Exige algo além da neutralidade que é o comprometimento como o outro, ou seja, a participação nos esforços de superação do processo de dominação [do racismo, intolerância religiosa, homofobia etc.] (BANDEIRA, 1995, p. 30)

ALTERIDADE, ESTRANHAMENTO
Levar em consideração a alteridade é uma forma de relativizar.

De acordo com Laplantine “A antropologia [...]é o estudo de todas as sociedades humanas (a nossa inclusive) , ou seja, das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas”  (1995,p. 20)

Laplantine considera necessário na prática antropológica de se ter um estranhamento (depaysement) ,ou seja, a não considerar a nossa sociedade, como o “centro do mundo” , como referencia para analisar e julgar as outras culturas. É questionar o que julgamos certo e natural.  É notar de que o menor  dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem nada de natural, são ,na realidade, o produto de escolhas culturais  “[...] aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático [...]”(1995,p. 20)

Considera que “[...] o conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única.” (1995,p. 20)

Propõem uma revolução no olhar (revolução epistemológica)          (1995, p.22 - 23
- uma ruptura com a ideia de que existe um “centro do mundo”, e correlativamente, uma ampliação do saber;
- deixar de identificar nossa pequena província [sociedade em que vivemos] com a humanidade;
- romper com a “naturalização do social” (como se nossos comportamentos estivessem inscritos em nós desde o nascimento, e não fossem adquiridos no contato com a cultura na qual nascemos [e vivemos];
- romper com a identificação do sujeito com ele mesmo [si mesmo],e da cultura com a nossa cultura (romper com o humanismo clássico);
- [considerar que o outro, bem como a sua cultura, é uma das possibilidades do eu]

O que caracteriza os seres humanos  é a sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de vida e formas de organização social extremamente diversas

Considera que “[...] assim como uma civilização adulta deve aceitar que seus membros se tornem adultos, ela deve igualmente aceitar a diversidade de culturas, também adultas”  (1995, p.24

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ALTERIDADE
Álter – o outro semelhante a mim
Ter postura relativista em relação a Cultura (ou elementos Culturais de determinado Cultura) significa tentar através do pensamento se colocar no lugar do outro (Alteridade), e lembrar que temos a Cultura (feito de ser, comportamento típico) do povo, grupo social onde fomos criados e socializados.  Por exemplo: se na Cultura de determinado povo permite a nudez publica de adultos, se eu nascesse e fosse criado lá, não teria o mal estar da nudez de adulto em público característico de nossa sociedade.
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ANTROPOLOGIA
A Antropologia Social [também denominada de Antropologia Social] é a ciência que estuda as diferenças entre os seres humanos. E ela possui o compromisso de superar o Etnocentrismo. (ROCHA,1986, p.20 – 21)
[...] Diferentemente do saber de “senso comum”, o movimento da Antropologia é no sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns.  Assim, a diferença não se equaciona  com a ameaça, mas com a alternativa.  El anão é uma hostilidade do “outro”, mas sim uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o “eu”(ROCHA, 1986, p.21)

BIBLIOGRAFIA
BANDEIRA, Maria de Lurdes. Antropologia: Cultura e Sociedade no Brasil. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 1995.

MUNANGA, Kabengele (Org.). Superando o racismo na escola. 3. ed. Brasília: Ministério da Educação, 2001.

SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. 9. ed. São Paulo:Brasiliense, 19—

ROCHA, Everardo P.Guimarães.  O que é Etnocentrismo. 3. ed. São Paulo:Brasiliense, 1986.


LAPLANTINE, François.  Aprender antropologia. 8.ed. São Paulo:Brasiliense,1994.