Relações de Gênero no Ensino
Fundamental e Médio:
Abordagens Iniciais
Referencia bibliográfica do texto
TORTATO,
Cintia de Souza; CASAGRANDE, Lindamir Salete; CARVALHO, Marilia Gomes. Relações
de Gênero no Ensino Fundamental e Médio: Abordagens Iniciais. Disponível em:<http://files.dirppg.ct.utfpr.edu.br/ppgte/eventos/cictg/conteudo_cd/E3_Rela%C3%A7%C3%B5es_de_G%C3%AAnero.pdf >. Acesso em 10 jun. 2013.
Resumo do texto
O objetivo deste artigo é apresentar os
resultados de um curso de capacitação que visou sensibilizar professoras e
professores sobre a necessidade de buscar a equidade de gênero e o respeito à diversidade
sexual no ambiente escolar. O curso uniu pesquisa e extensão, uma vez que,
juntamente com as aulas ministradas, houve coleta de dados através de
observação participante e trabalhos escritos pelos alunos e alunas que foram
interpretados à luz das teorias de gênero.
Este curso foi ofertado
aos profissionais da rede estadual, municipal e particular de ensino de
Curitiba e Região Metropolitana, do Ensino Fundamental e Médio. Foi utilizado o
método participativo que possibilitou às/aos participantes a reflexão sobre
temas como, práticas docentes, representações de gênero nos livros didáticos, o
uso de reportagens de jornais, revistas e internet para a discussão de gênero e
sexualidade, buscando a construção de concepções de gênero mais igualitárias.
Com este método foi
possível a
produção conjunta de conhecimentos sobre os problemas que as profissionais da educação
encontram em sua prática escolar, como conseqüência de preconceitos e
discriminações de gênero.
Como resultado
pode-se perceber, por meio de depoimentos e do trabalho final, que
algumas ações
estão sendo realizadas nas escolas, porém de forma isolada. As/os participantes
declararam que passaram a visualizar situações de preconceito e discriminações
em seu cotidiano.
Ressaltaram
ainda que para abordar esta temática precisem superar suas limitações por meio
de maior capacitação, bem como os empecilhos colocados pela comunidade que vão
desde a falta de apoio da direção até a preocupação dos pais quando se fala em
abordar a questão da sexualidade com os estudantes.
O curso
despertou o interesse das professoras e professores e mostrou a necessidade e
importância de se propiciar discussões como essas aos docentes de todas as disciplinas
e de todos os níveis de ensino.
Palavras-chave: Relações de Gênero; Diversidade Sexual; Educação.
O que se percebe
nas escolas Uma questão que logo se destaca nos trabalhos desenvolvidos com
profissionais da educação acerca das questões de gênero, diversidade sexual,
preconceitos e todas as relações que resultam dessas abordagens, é que a maioria dos profissionais consegue
identificar situações extremas que foram
sendo invisibilizadas no cotidiano da escola.
Alguns exemplos citados pelos participantes do curso em seus trabalhos de
conclusão do curso
Gênero e educação
A busca por uma sociedade mais democrática e justa deve ser
um dos objetivos dos atores sociais que trabalham na escola (professores, professoras,
alunos, alunas, supervisores, supervisoras, diretores, diretoras, enfim,
profissionais da educação), para que sejam formados cidadãs e cidadãos que
respeitem a diversidade cultural, os valores, as crenças, bem como os
comportamentos relacionados à sexualidade.
Entre as questões levantadas pelas autoras em sua análise de
documentos de políticas públicas no Brasil, está o questionamento acerca da
sistematização e aprofundamento das questões que compõe a perspectiva de gênero
e outras, como as de classe/etnia, orientação sexual e geração, num trabalho
constante e permanente junto aos educadores e ao currículo.
Neste espaço é que entra esse curso, pois, para uma efetiva
inclusão de questões voltadas para o combate às desigualdades sociais, ações como o curso que está sendo comentado
neste trabalho deveriam multiplicar-se tantas vezes quantas fossem necessárias.
Desse modo, trabalhar conceitos, noções, construções e desconstruções6 leva tempo e
demanda um esforço conjunto, não basta
constar nas orientações ou legislações, é preciso aproximar a escola e todos
que participam dela às contribuições dos especialistas e suas construções
teóricas.
Para AUAD (2006, p.
86):
a escola, para que haja aprendizado,
interfere nas hipóteses das crianças sobre os conhecimentos
matemáticos, científicos e
lingüísticos. Da mesma maneira, há de se intervir nos conhecimentos
relativos às relações de gênero, às
relações étnico-raciais, geracionais e de classe, para que as
discriminações e desigualdades
acabem.
E ainda mais, é
preciso extrapolar os limites da sala de aula e envolver todos que fazem parte
da escola, pois “cada espaço da instituição - as salas de aula, a sala de
professores, a cozinha, o saguão, o corredor ou o pátio – tem características
comuns e, também, particularidades que lhe são próprias, configurando sua
própria cultura” (STIGGER e WENETZ, 2006, p. 73) 7.
Em todos estes espaços
podem ocorrem manifestações de preconceito, discriminação e violência de
gênero, merecendo desta forma a atenção dos profissionais que atuam na escola.
A abordagem do conceito de gênero procurou proporcionar o
entendimento da construção social e histórica que se fez em torno dos sexos e
das desigualdades que decorreram dessa construção, enfatizando o aspecto
relacional e social do conceito e considerando o “gênero como constituinte da identidade
dos sujeitos” (LOURO, 1997).
A abordagem metodológica do curso
Utilizando o método
participativo foi possível às/aos participantes a reflexão sobre temas
como, práticas docentes, representações de gênero nos livros didáticos, o uso
de literatura infantil, reportagens de jornais, revistas e internet para a
discussão de gênero e sexualidade, [utilizou
pesquisa bibliográfica para localizar e colher dados nestes materiais]dentre
outros, buscando a construção de concepções de gênero mais igualitárias. Com
este método foi feita a produção conjunta de conhecimentos sobre os problemas
que as profissionais da educação encontram em sua prática escolar, como
conseqüência de preconceitos e discriminações de gênero. Os temas gênero e
diversidade sexual têm sido abordados em cursos de sensibilização de professores
por meio de diversas estratégias que são semelhantes àquelas que eles próprios
utilizam em suas práticas pedagógicas. A idéia consiste em não só oferecer o
acesso ao conhecimento, mas também o acesso às várias formas de trabalhar esse
conhecimento.
Entre as
estratégias utilizadas estão: leitura de livros de literatura infantil cuja
temática facilite a abordagem tanto de gênero como de diversidade sexual com os
discentes; slides contendo
pinceladas de teoria que vão sendo explicitadas ao longo das
apresentações; leitura de textos e imagens retirados de livros didáticos na
intenção de aguçar a percepção quanto à sutileza da
linguagem estereotipada e preconceituosa; apresentação de
reportagens que podem ser utilizadas para
o debate das desigualdades de gênero em diversas situações da sociedade
retiradas da internet; apresentação de música onde a letra contenha questões a
serem postas à reflexão do grupo; a apresentação de piadas e situações
constrangedoras comuns nos ambientes escolares; e uso do vídeo “Boneca na
mochila” que serviu de subsídio para discussão posterior.
Estas atividades
serão abordadas mais detalhadamente na sequência deste artigo.
A abordagem de gênero por meio da literatura infantil
A literatura infantil compreende um universo de
simbolizações e significações que se situam numa posição privilegiada de
comunicação com a criança, sua linguagem, ilustrações e formatos têm sido pensados
e testados para esse fim entendendo que, a partir da centralidade que a criança
assumiu na cultura contemporânea, ela também se constituiu em um grande mercado
consumidor (FELIPE, 1999, 2000, 2003; GOUVÊA, 2005; ZILBERMAN e LAJOLO, 1991;
ZILBERMAN, 2003).
Os setores acadêmicos ligados à crítica da literatura
infantil como recurso pedagógico ressaltam que o uso de livros e histórias
infantis como pretexto para abordar questões pedagógicas compromete o caráter
artístico dessa modalidade de literatura (SILVEIRA, 2003). Para alguns autores
a literatura pertence ao campo do lúdico e da emoção e sua subordinação ao
discurso científico-pedagógico pode até aniquilá-la (BURGARELLI, 2005).
No entanto, a criação e consolidação da literatura infantil
estão historicamente ligadas a
questões de cunho pedagógico. Gouvêa (2005, p.81), fazendo
um resgate da construção histórica da literatura infantil, coloca:
De maneira
característica, a literatura infantil definiu-se historicamente pela formulação
e transmissão
de visões
de mundo, assim como modelo de gostos, ações, comportamentos a serem
reproduzidos
pelo
leitor. Construiu-se a concepção de um texto literário em que o caráter
pedagógico fez-se
especialmente
presente. Ao mesmo tempo, à menoridade da infância associou-se a menoridade da
produção
literária, no interior desse campo cultural.
Sabe-se hoje, que a literatura infantil tem uma trajetória
histórica vinculada ao contexto social em que surgiu e se consolidou e que, a
partir daí conquistou um espaço próprio e importante como um gênero literário. Salientamos que neste
trabalho não estamos reduzindo a função da literatura infantil a um recurso
pedagógico, mas estamos nos valendo de um universo onde as questões
principais.desse trabalho: as questões de gênero e da diversidade sexual possam
ser abordadas com as crianças de forma lúdica e sem modelos definidos. 8 Como afirma
Zilberman (2003, p. 12):
O fato de a literatura infantil não
ser subsidiária da escola e do ensino não quer dizer que, como
medida de precaução, ela deva ser
afastada da sala de aula. Como agente de conhecimento porque
propicia o questionamento dos valores
em circulação na sociedade, seu emprego em aula ou em
qualquer outro cenário desencadeia o
alargamento dos horizontes cognitivos do leitor, o que justifica e
demanda seu consumo escolar.
Silveira (2003)
destaca a idéia de que mesmo sem finalidade explícita de ensinar os livros infantis
carregam uma ideologia implícita com estruturas sociais assumidas e valores.
Silveira e Santos (2006, p.1), complementam:
Assim, mesmo a literatura infantil
produzida nos anos mais recentes que se pretende “emancipatória”,
ou “não pedagogizante”, “não
moralizante”, não foge à contingência de carregar consigo
representações de mundo, consciente
ou inconscientemente nela plasmadas pelo autor, assim como
não pode sofisticar demais seus
recursos, sob pena de ser rejeitada pelo leitor infantil.
Em muitos casos, porém, está explícita a intenção de
problematizar e oferecer possibilidades de leituras de mundo para as crianças
de forma a questionar os padrões hegemônicos. 9 A literatura infantil também está
relacionada ao desenvolvimento da linguagem, através da ludicidade, da linguagem
simbólica, da linguagem imagética, da linguagem verbal, a criança entra em
contato com uma série de estímulos que vão auxiliá-la em seus processos de
aprendizagem e em sua formação como um todo (CANDIDO, 2003).
As
representações e linguagem nos livros didáticos
Os livros didáticos
constituem um importante material de apoio aos professores e professoras bem
como aos alunos e alunas. Muitas vezes, esses são os únicos livros aos quais
docentes e discente têm acesso. Silva (2000, p. 140) argumenta que, “por
causa da ausência de outros materiais que orientem os professores quanto à „o
que ensinar e „como ensinar, e também em decorrência da falta de acesso do
aluno a outras fontes de estudo e pesquisa”, os livros assumem um papel
significativo no dia-a-dia escolar. Passam, dessa forma, a ser o único material
de apoio às atividades de ensino e aprendizagem.
O Ministério da Educação - MEC tem empreendido esforços para
que o livro didático “passe a
ser entendido como instrumento auxiliar, e não mais a
principal e única ferramenta” (SILVA, 2000, p.140) de apoio as atividades de
ensino e aprendizagem. Porém, não se pode esquecer que em algumas regiões do
Brasil o acesso a outros meios e materiais é extremamente difícil, quer pela
localização geográfica da escola, quer pelas condições financeiras da população
local.
Por esse motivo, o
que está contido nos livros didáticos assume, muitas vezes, o status de verdade
absoluta, imutável e inquestionável.
Entretanto, uma análise mais apurada de alguns livros que
são distribuídos para as escolas brasileiras permite que se perceba que muitos
desses trazem, em suas imagens e textos, estereótipos e preconceitos de gênero,
classe, etnia, raça, dentre outros. Isso
pode ser
constatado não só
pelo que encontramos nesses livros, mas também pelas ausências. O silêncio
fala, e precisamos saber ouvi-lo.
Questionar as representações estereotipadas ali encontradas
não significa negar a qualidade
dos livros que estão no mercado nem tampouco a importância
que eles assumem no cotidiano
escolar. Significa alertar para a necessidade de se manter
um olhar crítico e, quando for necessário, questionar as representações que
podem transmitir preconceito e gerar discriminações quando essas adquirem valor
de “verdade”.
Moreno, argumenta que os livros ensinam mais do que os
conteúdos aos quais eles são destinados.
Segundos a autora os livros de
linguagem
não ensinam só a ler, assim como não
é o domínio do idioma a única coisa que cultivam, mas sim todo
um código de símbolos sociais que
comportam uma ideologia sexista, não explícita, mas incrivelmente
mais eficaz do que fosse expressa em
forma de decálogo. Meninas e meninos tendem de maneira
irresistível a seguir a modelos
propostos, principalmente quando lhes são oferecidos como
inquestionáveis e tão evidentes que
nem sequer necessitam ser formulados (1999, p. 43).
Cabendo aos professores estarem
atentos para formar estudantes críticos que sejam capaz de questionar as
representações que os livros trazem.
RESULTADO DE
PESQUISA REALIZADA EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÀTICA
Em pesquisa realizada para a dissertação de mestrado,
Casagrande (2005) constatou que os
livros didáticos de Matemática representam homens e mulheres
de forma estereotipadas. Homens e mulheres são apresentados em situações
diferenciadas como se vivessem em mundos separados com pouca interação entre
sujeitos de gêneros distintos.
No geral, as atividades representadas desenvolvidas pelas
meninas são menos dinâmicas do que as desenvolvidas por meninos, o que contribui
para a construção da imagem de que as meninas são mais passivas e organizadas,
e os meninos, mais agitados e criativos.
Segundo Auad (2003), esse fato corresponde às expectativas
de professores e professoras. Essa representação corrobora ainda o argumento de
Cavalcanti (2003), quando ela argumenta que a escola contribui para a
construção de uma visão dicotomizada de gênero,
em que as meninas e mulheres possuem determinadas características, e meninos e
homens,
outras distintas.
Metodologia
utilizada no Curso
Para este curso, buscou-se imagens e textos em livros
didáticos de diversas disciplinas. As
representações encontradas nestes livros se assemelham as
que Casagrande (2005) encontrou nos livros
de Matemática.
Esse tipo de representação é encontrado em livros de
diversas disciplinas como Ciências, Geografia e Língua Portuguesa.
Porém, as mesmas
imagens que podem transmitir estereótipos e preconceitos podem também servir
como ponto de partida para o debate de seus significados, implícitos e
explícitos, em sala de aula. Para que isso ocorra, há a necessidade de que professores
e professoras percebam que a manutenção e reprodução de situações que podem culminar
em discriminações de gênero, classe, raça e etnia se constitui em um problema.
Somente quando
identificarmos uma situação como problemática, poderemos tomar atitudes e
desenvolver ações para transformá-la. Essa transformação, geralmente, é difícil
e lenta, entretanto, necessária.
A projeção das
ilustrações teve como objetivo refletir como essas imagens podem contribuir
para a construção e manutenção dos estereótipos de gênero e, juntamente com
outras mídias como a televisão, cooperar para a construção das identidades dos
jovens e adolescentes.
As ilustrações contribuíram para que as participantes
olhassem para os conteúdos dos livros
didáticos de forma crítica, identificando os conceitos e
preconceitos de gênero presentes neles. O
olhar crítico possibilitará o desenvolvimento de uma educação mais igualitária.
A internet
A internet vem se constituindo num importante instrumento de
acesso e disseminação da informação e do conhecimento. Nem tudo o que se
encontra na rede deve ser considerada como verdadeira, entretanto depois de uma
criteriosa seleção, muitas reportagens disponíveis na internet podem ser
utilizadas em sala de aula como apoio ao ensino.
O uso da internet
pode ampliar as possibilidades e interações no contexto escolar:
Os trabalhos de pesquisa podem ser
compartilhados por outros alunos e divulgados instantaneamente
na rede para quem quiser. Alunos e
professores encontram inúmeras bibliotecas eletrônicas, revistas
on-line, textos, imagens e sons, que
facilitam a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de pesquisa
e ter materiais atraentes para
apresentação (MORAN, 1995, p. 5).
Outra ferramenta que pode ser utilizada como apoio ao ensino
e aprendizagem è a criação de blogs que podem se
constituir em um espaço de construção de conhecimentos, um recurso pedagógico
interativo e inovador, desde que seja utilizado de forma crítica.
Durante o curso, foram apresentadas algumas reportagens
sobre gravidez na adolescência,
violência contra homossexuais, violência no transito e
violência doméstica contra as mulheres e
crianças como exemplos
de reportagens que podem ser utilizadas para abordar as questões de gênero,
diversidade sexual e violência de gênero com alunos de diversos níveis de
ensino.
Este tipo de
reportagem pode ser utilizado em diversas disciplinas como Matemática na
qual pode ser discutido os números apresentados nestas reportagens, formulando
problemas com estes números; Língua Portuguesa com a construção de textos e
realização de debates nos quais os estudantes podem desenvolver o poder de
argumentação; Ciências e Biologia nas quais pode-se abordar as conseqüências
para o corpo dos adolescentes de uma gravidez precoce, da violência de gênero e
da homofobia, dentre outras.
Com o uso destas reportagens apresentou-se aos participantes
possibilidades de ações no
cotidiano escolar buscando instrumentar as professoras para
que possam passar da reflexão à ação
A música
Nas discussões com as participantes utilizaram-se as letras
de algumas músicas para a reflexão de como este artefato cultural pode ser
usado para a introdução e a reflexão das questões de gênero com os alunos. Para
este curso selecionou-se as músicas Pagu de Rita Lee e Homem com H de Ney
Matogrosso. As letras dessas duas músicas são, aparentemente, contraditórias.
Enquanto Pagu ressalta o que ela não é10, Homem com H tem a ênfase na afirmação do
que ele é11, porém ambas
10 Nem!Toda feiticeira é corcunda/Nem!Toda brasileira é
bunda/Meu peito não é de silicone/Sou mais macho/Que muito
homem...
buscam a afirmação das qualidades de seus protagonistas.
Após uma breve discussão sobre as letras destas duas canções as participantes
citaram os nomes de outras músicas que também podem ser utilizadas para abordar
a temática com os adolescentes.
As discussões
também foram voltadas para a análise da forma como homens e mulheres são cantados
na Música Popular Brasileira – MPB.
Em muitas letras as
mulheres são tratadas como objeto. O corpo feminino é um dos principais temas
da MPB.
Os corpos das mulheres cantadas em verso e prosa, na maioria
das vezes são jovens e belos e isso pode contribuir para que as jovens que não
percebem seus corpos como belos se sintam fora do padrão e busquem dietas que
podem leválas a doenças como a anorexia, por exemplo.
O uso de músicas
tem a vantagem de ser lúdico e assim despertar o interesse dos estudantes.
Por outro lado, a
falta de reflexão sobre as letras e o conteúdo das mesmas pode contribuir para
a disseminação de conceitos e preconceitos e, desta forma contribuir para a
manutenção de estereótipos de gênero, de raça e de classe. Assim, este artefato
cultural pode ser útil para a reflexão de gênero e diversidade sexual desde que
utilizado de forma crítica.
Filmes e documentários
Outro artefato
cultural que pode se tornar bastante apropriado para as discussões de gênero com
os estudantes é o filme de curta metragem ou trechos de filmes de longa duração. Existem três
pontos principais pelos quais os filmes podem ser selecionados para trabalhar
uma determinada temática: pelo conteúdo, pela linguagem ou pela técnica.
Para a discussão de
gênero, o conteúdo é fundamental para a seleção dos filmes a serem utilizados e, quando
devidamente preparados e adequadamente selecionados podem desencadear o
surgimento de diversas questões para o debate, podendo assim contribuir para o
desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de argumentação dos
estudantes.
Os filmes podem ser
usados como fonte “quando o professor direcionar a análise e o debate dos
alunos para os problemas e as questões surgidas com base no argumento, no
roteiro, nos personagens, nos valores morais e ideológicos que constituem a
narrativa da obra” (NAPOLITANO, 2004, p. 1).
O debate é fundamental em atividades com uso deste tipo de artefato.
Assim, é
importante que, ao selecionar um filme, o docente verifique
a duração do mesmo com o intuito de assegurar que haverá tempo para debater as
questões levantadas pelos estudantes.
USO DE FILMES DURANTE O CURSO
Durante o curso, utilizou-se o filme Boneca na Mochila
(1995), entretanto existe um grande
número de vídeo que poder ser utilizados em sala de aula ou
em cursos de sensibilização de
professores12.
Esses filmes podem despertar o interesse tanto das meninas
quanto dos meninos, e se tornarem um instrumento útil para a discussão de temas
que, muitas vezes, são controversos,
polêmicos e de difícil abordagem. Desse modo, os filmes e
documentários podem servir de
instrumento para facilitar a abordagem destes temas com os
estudantes.
11
Eu sou homem com H/E com H sou muito
homem/Se você quer duvidar/Olhe bem pelo meu nome/Já tô quase
namorando/Namorando pra casar...
12
Acorda, Raimundo acorda (1996); Minha
Vida de João (2001); Transamérica (2005); Ser Mulher (2006) e Singularidades
(2007), por exemplo.
Considerações finais
Tem sido de fundamental importância a abordagem das questões
de gênero no ambiente escolar em cursos de capacitação de professores.
Nas práticas realizadas apresenta-se com veemência a
necessidade de se proporcionar outros momentos como estes para que a discussão
sobre as relações de gênero, a busca pela eqüidade de gênero e o respeito à
diversidade sexual dentro e fora do ambiente escolar seja ampliada e difundida
a um número cada vez maior de pessoas.
As participantes demonstraram interesse em discutir a
temática e reforçaram a necessidade da busca por cursos de capacitação que
auxilie as professoras e professores a abordar assuntos tão relevantes.
A reflexão sobre os diversos artefatos culturais que podem
ser utilizados como disparadores das discussões acerca das temáticas de gênero
e diversidade sexual no ambiente escolar se mostrou fértil e, por meio dela,
pode-se apresentar sugestões de atividades a serem desenvolvidas com os alunos
com o intuito de desenvolver neles o respeito a diversidade de gênero e sexual
e a diminuição da homofobia e do sexismo.
Foi possível identificar transformações significativas na
forma das/os participantes perceberem
as relações de gênero na sociedade em geral e de modo
especial na escola. Isso foi percebido
durante as aulas, nas quais muitas/os expressaram as
transformações pelas quais estavam passando por meio de depoimentos, em sala de
aula ou nos corredores, quando nos procuravam para falar das experiências que
estavam vivenciando no seu cotidiano
A grande procura
pelo curso demonstra a importância e a necessidade de se ofertar cursos como
estes para os profissionais dos mais diversos níveis de ensino.
Quando encontram oportunidades,
as professoras e professores se dispõem a participar e a buscar novos conhecimentos,
nas mais diversas áreas com o intuito de melhorar suas práticas docentes e possibilitar
uma melhor compreensão da diversidade que se encontra no espaço escolar.
Convidados a sugerir formas de inserir as questões abordadas
no curso para a efetivação das ações voltadas ao combate ao preconceito e às
desigualdades em geral os participantes
sinalizaram a necessidade de:
“Um debate
aberto entre os profissionais da instituição sobre tais questões.”
“Cursos e
palestras, com pessoas que tenham um contato maior com estas questões,
direcionados aos
alunos e
membros da comunidade, afim de desde logo, ir inserindo uma nova visão na
sociedade.”
“Reuniões
mensais ou bimestrais com especialistas e mais cursos.” “Sem dúvida é
necessário trabalhar primeiramente com o corpo docente (... )”
“(... )
cursos de capacitação para professores, funcionários (... )”
“(... )
formação de um grupo de gênero dentro da escola (...)”
“Cursos
preparatórios para os professores, funcionários, secretárias.”
“Criar
grupos de estudo e discussão sobre os referidos temas, e oferecer uma caixa de
relatos
vivenciados
ou sugestões que não exija identificação do remetente (é sabido que nessas
caixas serão
colocadas
agressões, brincadeiras, etc, mas sempre se consegue algo que auxilie no
trabalho).”
“É
necessário todo um processo de formação que mostre as diversidades como algo
presente na
sociedade
e não algo que tem que ser combatido. Para que possamos ter um debate que ajude
na
formação
dos nossos alunos, é imprescindível que o professor esteja preparado.”
“Questões
como violência de gênero, homofobia, sexismo fazem parte do contexto escolar e
devem ser
encarados
francamente pela escola e debatidos para serem superados. Não se devem deixar
esses
assuntos,
por serem espinhosos, para serem discutidos em seminários e sim, discutidos em
sala de
aula no
momento que as dúvidas ou os preconceitos se evidenciam e com a franqueza e
singeleza que
merecem.”
O objetivo deste módulo foi debater sobre as questões de
gênero que se manifestam no
ambiente escolar, buscando sensibilizar as participantes
sobre a importância de tal reflexão para a construção de uma educação
democrática e igualitária, visando a redução das desigualdades sociais e
provocar indagações e inquietações nas participantes levando-as à reflexão
sobre as representações de gênero e suas relações na educação.
Após a sensibilização as professoras e professores foram
estimulados a buscar na internet, nas universidades, nas bibliotecas, junto a
grupos e núcleos de estudo de gênero mais materiais, bibliografias e apoio para
seus estudos e com isso, se preparar cada vez mais para enxergar e enfrentar as
manifestações de preconceito que surgem no dia-a-dia.
INFORMAÇÃO EXTRA ANEXADA QUE ANEXEI A ESSE TEXTO
O filme “Boneca na Mochila” pertence ao Kit anti-homofobia
que foi proibido de ser entregue às escolas devido aos protestos de políticos e
religiosos conservadores. Este filme pode ser visto e baixado no You Tube. Serve tanto para refletirmos sobre
asexualidade e papeis de gênero, como também no papel retogrado (e as vezes
homofóbico) de políticos e religiosos conservadores
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