Educação?Educações
BRANDÃO, Carlos
Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense,2004.
Educação?Educações:
Aprende com o Índio
Ninguém escapa
da educação. Em casa, na rua, na igreja
ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com
ela. Todos os dias misturamos a vida com
a educação.
Não há uma forma
única, nem um único modelo de educação;
A escola não é o
único lugar onde ela ocorre, e talvez não segue o melhor;
O ensino escolar
não é a única pratica onde ocorre a educação;
O professor
profissional não é o único praticante da educação [educador]
Em mundos
diversos [sociedades] a educação existe de formas diferentes
Ler carta
escrita pelos chefes indígenas para autoridades brancas que ofereceram vagas
para educar jovens indígenas em suas escolas p.
8 – 9
Os índios sabiam
que a educação do colonizador, que contem o saber de seu modo de vida e ajuda a
confirmar a aparente legalidade de seus atos de domínio, na verdade não serve
para ser a educação do colonizado [no caso dos povos indígenas] p.11
Existe educação em
cada povo
Existe educação
de cada categoria de sujeitos de um povo
Existe entre
povos que se encontram p.9 -10
Da família à
comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais [sociedades]
A educação pode
existir livre, entre todos. Pode ser uma
das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como idéia, como
crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho, ou como vida. p.10
A educação pode
existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o
controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os seres
humanos p.10
A educação é uma
fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas
outras invenções de sua cultura.
Formas de educação
que produzem e praticam p.10 -11
O saber que atravessa as palavras da
tribo [linguagem]
Códigos sociais de conduta
As regras de trabalho
Os segredos da arte ou da religião
Do artesanato ou da tecnologia que
qualquer povo precisa para reinventar todos os
dias a vida do grupo [enfim para viver]
Incultar, de geração em geração, a
necessidade da ordem [social]
Força da Educação p.11
Ela ajuda a
pensar e a criar tipos de homens que a sociedade precisa, através de passar
para uns e para outros o saber que os constitui e legitima
Participa do
processo de
- Construção de crenças e idéias
- De qualificações e especialidades
que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes
que, em conjunto, constroem tipos de sociedades.
Fraqueza da Educação
O professor
pensando as vezes que age por si próprio, livre e em nome de todos, imagina que
serve ao saber e a quem ensina, mas na verdade, ele pode estar servindo a quem
o constituiu como professor [pessoa, classe ou grupo social], a fim de usá-lo,
e ao seu trabalho, para fins escusos que ocultam também na educação, ou seja,
interesses políticos impostos sobre ela e, através de seu exercício sobre a
sociedade que habita p.11 – 12
A educação no
imaginário das pessoas e na ideologia dos grupos sociais é vista como tendo a
missão de transformar sujeitos e mundos [sociedades] em alguma coisa melhor.
Mas na pratica a
mesma educação que ensina pode deseducar, fazendo o contrario do que se pensa
sobre ela. p.12
Quando a escola é a aldeia
A educação
existe onde não há a escola, onde sequer foi criado algum modelo de ensino
formal e centralizado. Pois nesses locais podem existir redes e estruturas
sociais de transferência de saber de uma geração a outra. p.13
Os animais
aprendem de dentro para fora com as armas naturais do instinto. Mas a isto eles
acrescentam maneiras de aprender de fora para dentro, convivendo com a espécie,
observando a conduta de outros iguais de sua espécie e experimentando, por
conta própria, repetir muitas vezes essas condutas da especie. p.13 -14.
O ser humano
aprendeu a transformar partes das trocas feitas no interior da cultura em
situações sociais de aprender e aprender (educação)
A educação
continua no ser humano o trabalho da natureza de fazê-lo evoluir, de torná-lo
mais humano.
Os antropólogos
ao estudarem as sociedades “primitivas” [sociedades simples], sociedades
tribais das Américas, da Ásia, da África e da Oceania, quase em sua totalidade,
não utilizam a palavra educação ao descreverem relações cotidianas ou
cerimônias rituais em que crianças aprendem e jovens são solenemente admitidos
no mundo dos adultos
As crianças e
jovens para se ajustar à sua sociedade precisam ser educados
Aprendem aos
poucos a caçar, a fabricar o arco e a fecha e assim por diante
Adquirem
sentimentos e disposições emocionais que regulam a conduta dos membros da tribo
e constituem o corpo de suas regras sociais da moralidade
Os antropólogos
identificaram processos sociais de aprendizagem, mas nenhuma situação
propriamente escolar de transferência do saber tribal. P.17
Tudo o que se
sabe aos poucos se adquire por viver muitas e diferentes situações de trocas
entre pessoas, com o corpo, com a consciência, com o corpo e a consciência.
As pessoas
convivem umas com as outras e o saber flui pelos atos de quem, para quem
não-sabe-e-aprende. Mesmo quando os
adultos encorajam e guiam os momentos e situações de aprender de crianças e adolescentes,
são raros os tempos especialmente reservados apenas para o ato de ensinar.
A criança vê,
entende, imita e aprende com a sabedoria que existe no próprio gesto de fazer a
coisa
São situações de
aprendizagem aquelas em que as pessoas do grupo trocam bens materiais entre si
ou trocam serviços e significados: na turma da caçada, no braço de pesca, no
canto da cozinha da palhoça, na lavoura familiar ou comunitária de mandioca,
nos grupos de brincadeiras de meninos e meninas, nas cerimônias religiosas. P.18