sábado, 16 de maio de 2015

QUAL “RETRATO DO BRASIL”? RAÇA, BIOLOGIA, IDENTIDADES E POLÍTICA NA ERA DA GENÔMICA*



QUAL “RETRATO DO BRASIL”? RAÇA, BIOLOGIA, IDENTIDADES E POLÍTICA NA ERA DA GENÔMICA*
Ricardo Ventura Santos e Marcos Chor Maio

Por exemplo, consideremos a relação entre a classificação racial conferida a um dado indivíduo (por ele próprio ou por seus pares) e seu status socioeconômico. Desde longa data, vários estudos realizados no Brasil, hoje tidos como clássicos e conduzidos por autores como Oracy Nogueira, Charles Wagley e Marvin Harris, entre outros, vêm apontando para a íntima associação entre a percepção sobre filiação racial, por um lado, e escolaridade e renda, por outro. Tal padrão tem sido confirmado por pesquisas mais recentes, como a de Silva (1994) e Telles (2002). Em ambas, a cor/raça dos entrevistados foi classificada tanto pelo entrevistador como por meio de autoclassificação.
Telles (2002) examinou dados de um levantamento de representatividade nacional conduzido em 1995 e que incluiu aproximadamente 5 mil moradores de centros urbanos de várias regiões do Brasil, tendo confirmado a ocorrência de associação entre escolaridade e “branqueamento” das respostas.
Silva analisou os dados de uma pesquisa realizada em São Paulo, em 1986, com 573 entrevistados e concluiu: “os resultados obtidos são absolutamente compatíveis com a idéia de um ‘efeito embranquecimento’ [associado à educação e renda] […] no Brasil, não só o dinheiro embranquece, como, inversamente, a pobreza também escurece” (1994:77-78; ênfases no original).  P.73 – 74

Os resultados das análises do DNA mitocondrial apontam para um quadro mais complexo, tendo resultado em 170 diferentes haplotipos HVS-I, que se agrupam em 4 haplogrupos de origem ameríndia (predominância dos haplogrupos A e B), 8 de origem africana (predominância de L3e, L2 e L1c) e 10 de origem européia (predominância de H e U).
 Segundo Alves-Silva et alii, “a amostra total evidenciou 33% de contribuição ameríndia e 28% de contribuição africana no conjunto total do DNA mitocondrial” (2000:454), ou seja, “uma surpreendentemente elevada contribuição matrilinear de origem ameríndia e africana” nos homens brancos brasileiros estudados (2000:458).  P. 75

Citação colocada no texto
O Brasil certamente não é uma “democracia racial” […]. Pode ser ingênuo de nossa parte, mas gostaríamos de acreditar que se os muitos brancos brasileiros que têm DNA mitocondrial ameríndio e africano se conscientizassem disso valorizariam mais a exuberante diversidade genética do nosso povo e, quem sabe, construiriam no século 21 uma sociedade mais justa e harmônica
(Pena et alii 2000:25).   P.75

FONTE
MANA 10(1):61-95, 2004 . Disponivel em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v10n1/a03v10n1.pdf >. Acesso em: 25 nov. 2013

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