sábado, 24 de novembro de 2012

A Diferenciação étnico-cultural como fator de insucesso escolar


A Diferenciação étnico-cultural como fator de insucesso escolar
BANDEIRA, Maria de Lourdes. Antropologia. Diversidade e Educação. Cuiabá: Ed UFMT, 1995.

Resumo elaborado por Antônio Eustaquio de Moura/UNEMAT, campus deCáceres
 

Dados sobre a repetência de crianças indígenas e crianças negras mostram uma correlação entre a diferenciação étnico-cultural e repetência escolar.

 

O insucesso escolar é gerado pela diferença em si ou no modo como a escola lida com a diferença étnico-cultural.

 

Representações coletivas sobre capacidades intelectuais de negros e índios apontam na direção de que a tendência ao insucesso escolar se explica pela diferença em si.

 

A competência intelectual de índios

 

Representações Coletivas sobre os índios  [povos indígenas´]

é tradicionalmente depreciada

Os índios são considerados incapazes de civilização

O discurso social sobre o índio passa a idéia de que possui uma mentalidade c primitiva, pré -lógica, ingênua, infantil

Se o índio é socialmente considerado selvagem e incapaz fica implícito sua incapacidade, também para a escolarização

 

Representações sociais sobre os negros                 34 - 35

São considerados como intelectualmente inferiores

As teorias racistas de Conde Gobineau, diplomata Frances no Brasil, durante o segundo império, foram consideram muito divulgadas e se tornaram populares

 

Para Gobineau

Os negros eram:

             fisicamente bem dotados;

            apropriado ao trabalho pesado, que requer esforço físico

           

representações positivas dos dotes físicos dos negros

            boa voz

            bons dentes

            mais resistência física

            mais potencia sexual

            mais sensualidade

            mais ritmo

            bom ouvido

 

Por possuir estas qualidades físicas se destaca no futebol, musica e dança

 

Estas capacidades maiores nestas atividades não levam em conta que são praticas populares que os negros podiam realizar, desde o contexto da escravidão.                 35

 

Qualidades intelectuais do negro, segundo Gobineau

            Rude,

            Com dificuldade para aprender

 

Desta forma [no imaginário nacional] se colocava que os negros e os índios tinham menos capacidade de aprendizagem que os brancos

 

Afirmação da autora

A dificuldade de aprendizagem para os negros e para os índios é engendrada em nível do distanciamento social e cultural que o meio escolar lhes impõem               35

 

Crianças negras e índias não se vêem refletidas no meio escolar.  Aos problemas e dificuldades que todos os alunos enfrentam, somam-se hostilidade, a discriminação, o desprezo, a humilhação, ao desenraizamento experiência dolorosa, aversiva, frustrante, incapacitante cultural, a opressão que tornam a escolaridade uma experiência dolorosa, aversiva, frustrante, incapacitante.                       35

 

A diferenciação étnico-cultural como fator de insucesso escolar coloca o desafio de se pensar a educação dos negros e a educação indígena.                       35

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIMENSÃO CULTURAL DA SALA DE AULA

 

A passagem da vida familiar para a vida escolar é uma experiência marcante para a grande maioria das crianças.                                   18

 

Na escola

 

Um meio                     18

            Com referencias e valores diferenciados

            Com focos de significação dominantes

 

A criança vai se defrontar com um meio social mais amplo, nem sempre iguais aos do seu meio social.

 

A escola vai implicar um desdobramento da consciência de si nas relações com o meio mais amplo que ela enseja.

 

A sala de aula é um micro universo da sociedade                18 - 19

- os recortes das diversificações internas da sociedade vão sendo percebidos e internalizados;

- a relação da criança com esse micro universo se dá, inicialmente, pelo deslocamento dos significados do meio escolar;

- o professor é identificado com a autoridade e os colegas são identificados como pares

- é um lugar de aprendizagem escolar e aprendizagem social;

 

 

O funcionamento da classe é social e culturalmente regulado         18 – 19

- a criança aprende a se comportar, discrimina as expectativas do professor, dos pares, da própria família e se esforça para responder a elas;

- dos processos de interação emergem novas regras;

- entre as regras aprendidas na escola e as do meio familiar podem haver divergências, certas regras ora têm validade ora não;

- a criança enfrenta novas exigências e novos conflitos

 

Na interação que ocorre na escola, a criança apreende intenções e cada vez mais os papeis e as representações das diferenças assumem importância nos processos de discriminação

 

Para muitas crianças seus quadros de referencia e os de seus pares apresentam, ou não uma dolorosa divergência com os quadros dominantes de referencia.

 

A sala de aula é um palco de conflitos de valores.  As diferenças raciais, as diferenças de origem regional ou de origem urbano-rural, enfim as diferenças étnico-culturais configuram conflitos de valores de pertencimento, interferindo no reconhecimento recíproco entre os colegas de classe, podendo assumir feição limite de processos de rejeição, de discriminação.  A criança é colocada face a face com uma imagem que o espelho desses processos reflete de si, distanciada e deformada em relação à própria auto-imagem, levando-a a desejar ser diferente do que é, ou seja, não ser o que é. 19

 

 

A sala de aula se define como um instrumento de hegemonia cultural        19

            Pressiona os alunos em direção a aceitação [da cultura hegemônica]

            A manifestação de resistência (ativa ou passiva) é asfixiada

            O aluno [por algum motivo inferiorizado] aprende, a duras penas, a distância social         entre ele e os outros

 

Na escola, a criança pode ser sentir estimulada ou reprimida, livre ou oprimida

 

[As favorecidas pelas suas condições; as desfavorecidas pelas suas condições]

[fazer ligação do o texto Pedagogia da Diferença de Marli Andre]

 

 

Os quadros de referencia epistemológica entram em conflito.         19

            O saber dos alunos étnicos culturalmente diferenciados não lhes garante pontes para o saber escolar que não os reconhece [o mesmo ocorre com os alunos do meio rural em escolas urbanas ou que utilizam padrões urbanos]

 

A sala de aula além de foco de representações sociais dominantes é foco de construção da representação conceitual cientifica do mundo [exemplo predomínio do positivismo[AM1] ]

 

O positivismo, por exemplo, como forma de modelagem conceitual confere um sentido de anterioridade da ordem, como atributo do universo físico e social, encobrindo a sua qualidade de construção histórica –social.                           19 – 20

 

Exemplos de como em um livro didático aborda

            As cidades                  20 – 21

            A zona rural                21 – 22

            a interligação município,Estado e Pais          24

            a reprodução                          25

            a higiene e a saúde                 26 – 27

 

O livro didático não é o único vilão da educação escolar

Parte do problema da educação escolar é devido a cultura da Escola.

 

 

CULTURA DA ESCOLA

Programas

Avaliação

Projeto pedagógico

 

 

 

 

 

Programas                   27

Desempenham um papel crucial na Cultura da escola

São o suporte da educação escolar reduzida a um processo de transmissão de conhecimentos, de conteúdos programáticos.

Não deixam claro que os temas listados nos programas são objeto de diferentes abordagens sob o enfoque de diferentes orientações teóricas

 

A cultura da escola privilegia a aula em si

 

Avaliação                   27

É uma questão interdita, objeto de tensões e inseguranças.

Não se construiu uma tradição escolar de avaliação

 

Projeto Pedagógico

È tradicionalmente definido pelo Estado, pela Igreja (escolas confessionais), pelas empresas (escolas privadas)

 

 

Projeto Pedagógico                27 - 28

            Primeiro projeto

                        Difusão do ensino elementar

                        Preparação para o trabalho

            Essa proposta foi recusada pelo Governo Colonial, pois o mesmo recusava em pensar em uma educação publica, isto é, destinada a coletividade ao povo

 

            Influencia positivista – á partir do final do século XlX                   28

            Incultou uma visão linear de progresso, garantido pela ordem

            Atribuía à ordem o sentido de obediência

 

            Criada pela Constituição republicana                        28

            Orientada no sentido de significar as duas pontas do sistema: a escola primaria e a escola superior (faculdades e universidades)

            O ensino de segundo grau configurou-se como uma espécie de limbo

 

A escola, como instituição da cultura para transmissão da cultura, desenvolveu-se como expressão da cultura da submissão e da opressão [...]                        28

 

 

   Educação sob a ótica dos pioneiros da Educação Nova           29

            Democratização do ensino tendo como base a obrigatoriedade

            Gratuidade

            Laicidade

            Composição mista das classes

            Profissionalização

 

A superação da dimensão cultural tradicionalista do caráter elitizante da sala de aula e da educação escolar ainda é um processo em curso, bem longe de estar concluído. 

A permanência do caráter elitizante se expressa na aula improvisada, na falta de identidade da escola, na inexistência de um projeto pedagógico próprio fundado nas raízes culturais de seus alunos, na valorização do ornamento e da aparência, numa pratica educativa de ensaio e erro, exercitada sobre o vazio.  Enfim, o caráter elitizante da sala de aula se expressa cotidianamente num ensino de fachada, num ensino circular que se repete indefinidamente, um ensino retórico sem vinculações com a pratica, um ensino atomizado sem articulações com as vivencias do aluno.                 29



 [AM1]Positivismo- doutrina de Auguste Comte caracterizada pela orientação antimetafisica e antiteologica. Preconizava como valido unicamente à admissão de conhecimentos baseados em fatos e dados da experiência.
No Social a valorização da ordem, o respeito às instituições e hierarquias

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