A Diferenciação étnico-cultural como fator de insucesso escolar
BANDEIRA, Maria de Lourdes. Antropologia. Diversidade e Educação. Cuiabá: Ed
UFMT, 1995.Resumo elaborado por Antônio Eustaquio de Moura/UNEMAT, campus deCáceres
Dados sobre a repetência de
crianças indígenas e crianças negras mostram uma correlação entre a diferenciação
étnico-cultural e repetência escolar.
O insucesso escolar é gerado pela
diferença em si ou no modo como a escola lida com a diferença étnico-cultural.
Representações coletivas sobre
capacidades intelectuais de negros e índios apontam na direção de que a
tendência ao insucesso escolar se explica pela diferença em si.
A competência intelectual de índios
Representações Coletivas sobre os índios [povos indígenas´]
é tradicionalmente depreciada
Os índios são considerados
incapazes de civilização
O discurso social sobre o índio
passa a idéia de que possui uma mentalidade c primitiva, pré -lógica, ingênua,
infantil
Se o índio é socialmente
considerado selvagem e incapaz fica implícito sua incapacidade, também para a
escolarização
Representações sociais sobre os negros 34
- 35
São considerados como
intelectualmente inferiores
As teorias racistas de Conde
Gobineau, diplomata Frances no Brasil, durante o segundo império, foram
consideram muito divulgadas e se tornaram populares
Para Gobineau
Os negros eram:
fisicamente bem dotados;
apropriado
ao trabalho pesado, que requer esforço físico
representações positivas dos dotes
físicos dos negros
boa
voz
bons
dentes
mais
resistência física
mais
potencia sexual
mais
sensualidade
mais
ritmo
bom
ouvido
Por possuir estas qualidades
físicas se destaca no futebol, musica e dança
Estas capacidades maiores nestas
atividades não levam em conta que são praticas populares que os negros podiam realizar,
desde o contexto da escravidão. 35
Qualidades intelectuais do negro, segundo
Gobineau
Rude,
Com
dificuldade para aprender
Desta forma [no imaginário
nacional] se colocava que os negros e os índios tinham menos capacidade de
aprendizagem que os brancos
Afirmação da autora
A dificuldade de aprendizagem para
os negros e para os índios é engendrada em nível do distanciamento social e cultural que o meio escolar lhes impõem 35
Crianças negras e índias não se vêem
refletidas no meio escolar. Aos
problemas e dificuldades que todos os alunos enfrentam, somam-se hostilidade, a
discriminação, o desprezo, a humilhação, ao desenraizamento experiência
dolorosa, aversiva, frustrante, incapacitante cultural, a opressão que tornam a
escolaridade uma experiência dolorosa, aversiva, frustrante, incapacitante. 35
A diferenciação étnico-cultural como fator de insucesso
escolar coloca o desafio de se pensar a educação dos negros e a educação
indígena. 35
DIMENSÃO CULTURAL DA
SALA DE AULA
A passagem da vida familiar para a vida escolar é uma experiência
marcante para a grande maioria das crianças. 18
Na escola
Um meio 18
Com
referencias e valores diferenciados
Com focos
de significação dominantes
A criança vai se defrontar com um meio social mais amplo, nem
sempre iguais aos do seu meio social.
A escola vai implicar um desdobramento da consciência de si
nas relações com o meio mais amplo que ela enseja.
A sala de aula é um micro universo da sociedade 18 - 19
- os recortes das diversificações internas da sociedade vão
sendo percebidos e internalizados;
- a relação da criança com esse micro universo se dá, inicialmente,
pelo deslocamento dos significados do meio escolar;
- o professor é identificado com a autoridade e os colegas
são identificados como pares
- é um lugar de aprendizagem escolar e aprendizagem social;
O funcionamento da classe é social e culturalmente regulado 18 – 19
- a criança aprende a se comportar, discrimina as
expectativas do professor, dos pares, da própria família e se esforça para
responder a elas;
- dos processos de interação emergem novas regras;
- entre as regras aprendidas na escola e as do meio familiar
podem haver divergências, certas regras ora têm validade ora não;
- a criança enfrenta novas exigências e novos conflitos
Na interação que ocorre na escola, a criança apreende
intenções e cada vez mais os papeis e as representações das diferenças assumem
importância nos processos de discriminação
Para muitas crianças seus quadros de referencia e os de seus
pares apresentam, ou não uma dolorosa divergência com os quadros dominantes de referencia.
A sala de aula é um palco de conflitos de valores. As diferenças raciais, as diferenças de
origem regional ou de origem urbano-rural, enfim as diferenças étnico-culturais
configuram conflitos de valores de pertencimento, interferindo no
reconhecimento recíproco entre os colegas de classe, podendo assumir feição
limite de processos de rejeição, de discriminação. A criança é colocada face a face com uma
imagem que o espelho desses processos reflete de si, distanciada e deformada em
relação à própria auto-imagem, levando-a a desejar ser diferente do que é, ou
seja, não ser o que é. 19
A sala de aula se define como um instrumento de hegemonia
cultural 19
Pressiona
os alunos em direção a aceitação [da cultura hegemônica]
A
manifestação de resistência (ativa ou passiva) é asfixiada
O aluno
[por algum motivo inferiorizado] aprende, a duras penas, a distância social entre ele e os outros
Na escola, a criança
pode ser sentir estimulada ou reprimida, livre ou oprimida
[As favorecidas pelas suas condições; as desfavorecidas
pelas suas condições]
[fazer ligação do o texto Pedagogia da Diferença de Marli
Andre]
Os quadros de referencia epistemológica entram em conflito. 19
O saber dos
alunos étnicos culturalmente diferenciados não lhes garante pontes para o saber
escolar que não os reconhece [o mesmo ocorre com os alunos do meio rural em
escolas urbanas ou que utilizam padrões urbanos]
A sala de aula além de foco de representações sociais dominantes
é foco de construção da representação conceitual cientifica do mundo [exemplo
predomínio do positivismo[AM1] ]
O positivismo, por exemplo, como forma de modelagem
conceitual confere um sentido de anterioridade da ordem, como atributo do
universo físico e social, encobrindo a sua qualidade de construção histórica
–social. 19 – 20
Exemplos de como em um livro didático aborda
As cidades 20 – 21
A zona
rural 21 – 22
a
interligação município,Estado e Pais 24
a
reprodução 25
a higiene e
a saúde 26 – 27
O livro didático não é o único vilão da educação escolar
Parte do problema da educação escolar é devido a cultura
da Escola.
CULTURA DA ESCOLA
Programas
Avaliação
Projeto pedagógico
Programas 27
Desempenham um papel crucial na Cultura da escola
São o suporte da educação escolar reduzida a um processo de
transmissão de conhecimentos, de conteúdos programáticos.
Não deixam claro que os temas listados nos programas são
objeto de diferentes abordagens sob o enfoque de diferentes orientações teóricas
A cultura da escola privilegia a aula em si
Avaliação 27
É uma questão interdita, objeto de tensões e inseguranças.
Não se construiu uma tradição escolar de avaliação
Projeto Pedagógico
È tradicionalmente definido pelo Estado, pela Igreja
(escolas confessionais), pelas empresas (escolas privadas)
Projeto Pedagógico 27
- 28
Primeiro
projeto
Difusão
do ensino elementar
Preparação
para o trabalho
Essa
proposta foi recusada pelo Governo Colonial, pois o mesmo recusava em pensar em
uma educação publica, isto é, destinada a coletividade ao povo
Influencia
positivista – á partir do final do século XlX 28
Incultou
uma visão linear de progresso, garantido pela ordem
Atribuía à
ordem o sentido de obediência
Criada pela
Constituição republicana 28
Orientada
no sentido de significar as duas pontas do sistema: a escola primaria e a
escola superior (faculdades e universidades)
O ensino de
segundo grau configurou-se como uma espécie de limbo
A escola, como instituição da cultura para transmissão da cultura,
desenvolveu-se como expressão da cultura da submissão e da opressão [...] 28
Educação sob a ótica dos pioneiros da
Educação Nova 29
Democratização
do ensino tendo como base a obrigatoriedade
Gratuidade
Laicidade
Composição
mista das classes
Profissionalização
A superação da dimensão cultural tradicionalista do caráter elitizante
da sala de aula e da educação escolar ainda é um processo em curso, bem longe
de estar concluído.
A permanência do caráter elitizante se expressa na aula improvisada, na
falta de identidade da escola, na inexistência de um projeto pedagógico próprio
fundado nas raízes culturais de seus alunos, na valorização do ornamento e da
aparência, numa pratica educativa de ensaio e erro, exercitada sobre o
vazio. Enfim, o caráter elitizante da
sala de aula se expressa cotidianamente num ensino de fachada, num ensino
circular que se repete indefinidamente, um ensino retórico sem vinculações com
a pratica, um ensino atomizado sem articulações com as vivencias do aluno. 29
[AM1]Positivismo-
doutrina de Auguste Comte caracterizada pela orientação antimetafisica e
antiteologica. Preconizava como valido unicamente à admissão de conhecimentos
baseados em fatos e dados da experiência.
No Social a valorização da ordem, o respeito às
instituições e hierarquias
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